Bitcho e o aniversário de casamento
Todo mundo sabe que o Bitcho tem uma 'vida anterior' meio impublicável, hedonista. Um dia ele decidiu tornar-se um cara sossegado e pai de família e nunca mais olhou para trás. Mas as lembranças que ele deixou são indeléveis.
Num certo aniversário de casamento, o Bitcho decidiu levar a então esposa para jantar num lugar *realmente* bom, e deixou que ela escolhesse. Saíram os dois pela Cidade-Sorriso a passear e decidir onde comer e beber à saúde daquela efeméride. Passaram no Mangiare Felice, no Divino Mestre, no Madalosso, no Kamogawa, mas ela recusava um após o outro.
Até que passaram num beco para fazer o retorno (entre o Cristo Rei e o Tarumã, se continuassem reto, iam dar na BR-116, como bem sabe todo Conectivo), e ali havia ... um inferninho. "É aqui mesmo, quero jantar aqui", disse ela.
"Mas isso aqui é um inferninho!" -- disse o Bitcho.
Ela insistiu, disse que tinha deixado ela escolher, e que sempre teve curiosidade de saber como é um lugar destes por dentro. Aquela curiosidade de mulher dita casta.
O taxi os deixou ali (na época o Bitcho ainda não sabia dirigir) e foram entrando. "Boa noite, doutor Rodrigo!", foi logo dizendo o porteiro uniformizado. Foi aquele susto, felizmente a esposa do Bitcho estava um pouco longe e distraída.
O Bitcho perfeitamente consciente de que tinha entrado numa fria. Não tinha como voltar atrás sem entregar de vez o jogo. "Talvez não me reconheçam lá dentro, no escuro", pensou ele.
Mas os serviçais não podiam deixar de insisitir na simpatia. Era Dr. Rodrigo para lá, Dr. Rodrigo para cá. O maître foi logo perguntando "a mesa de sempre, doutor?" e foi andando em linha perfeitamente reta até à mesa de pista. A patroa não dava sinais de ter compreendido a relação causal.
Até que o garçom ofereceu o uisquinho com gelo "de sempre", já fazendo menção de virar a garrafa de Blue Label num gigantesco copo duplo cheio de gelo, decorado com o brasão escarlate do Internacional. E então ela abriu a boca pela primeira vez:
"Hoje o Rodrigo não vai beber. Só vai jantar."
E o garçom: "Perfeito. Neste caso o seu franguinho desossado, não é, Dr. Rodrigo?"
Foi o jantar mais insípido e indigesto da vida do Bitcho. Teria sido um pouco menos ruim se o pianista não tivesse vindo pessoalmente à mesa perguntar "se o doutor e sua dona não queriam dançar aquele samba reboladinho". Na saída, o porteiro meteu mais um "Boa noite, doutor Rodrigo!" e abriu a porta do taxi à espera. Alguém tinha se dado ao trabalho de chamar um taxi!
Uma vez lá dentro o motorista foi logo perguntando: "Para o Alfa Motel, doutor?". Aí a patroa explodiu: "É por isso que você faz tanta hora extra lá na Free Soft, né, seu safado! Responde, desgraçado!" Ia continuar mas o motorista interrompeu: "Doutor, em o senhor querendo eu dou uns tapas nessa vagabunda, que ela se aquieta logo."
Num certo aniversário de casamento, o Bitcho decidiu levar a então esposa para jantar num lugar *realmente* bom, e deixou que ela escolhesse. Saíram os dois pela Cidade-Sorriso a passear e decidir onde comer e beber à saúde daquela efeméride. Passaram no Mangiare Felice, no Divino Mestre, no Madalosso, no Kamogawa, mas ela recusava um após o outro.
Até que passaram num beco para fazer o retorno (entre o Cristo Rei e o Tarumã, se continuassem reto, iam dar na BR-116, como bem sabe todo Conectivo), e ali havia ... um inferninho. "É aqui mesmo, quero jantar aqui", disse ela.
"Mas isso aqui é um inferninho!" -- disse o Bitcho.
Ela insistiu, disse que tinha deixado ela escolher, e que sempre teve curiosidade de saber como é um lugar destes por dentro. Aquela curiosidade de mulher dita casta.
O taxi os deixou ali (na época o Bitcho ainda não sabia dirigir) e foram entrando. "Boa noite, doutor Rodrigo!", foi logo dizendo o porteiro uniformizado. Foi aquele susto, felizmente a esposa do Bitcho estava um pouco longe e distraída.
O Bitcho perfeitamente consciente de que tinha entrado numa fria. Não tinha como voltar atrás sem entregar de vez o jogo. "Talvez não me reconheçam lá dentro, no escuro", pensou ele.
Mas os serviçais não podiam deixar de insisitir na simpatia. Era Dr. Rodrigo para lá, Dr. Rodrigo para cá. O maître foi logo perguntando "a mesa de sempre, doutor?" e foi andando em linha perfeitamente reta até à mesa de pista. A patroa não dava sinais de ter compreendido a relação causal.
Até que o garçom ofereceu o uisquinho com gelo "de sempre", já fazendo menção de virar a garrafa de Blue Label num gigantesco copo duplo cheio de gelo, decorado com o brasão escarlate do Internacional. E então ela abriu a boca pela primeira vez:
"Hoje o Rodrigo não vai beber. Só vai jantar."
E o garçom: "Perfeito. Neste caso o seu franguinho desossado, não é, Dr. Rodrigo?"
Foi o jantar mais insípido e indigesto da vida do Bitcho. Teria sido um pouco menos ruim se o pianista não tivesse vindo pessoalmente à mesa perguntar "se o doutor e sua dona não queriam dançar aquele samba reboladinho". Na saída, o porteiro meteu mais um "Boa noite, doutor Rodrigo!" e abriu a porta do taxi à espera. Alguém tinha se dado ao trabalho de chamar um taxi!
Uma vez lá dentro o motorista foi logo perguntando: "Para o Alfa Motel, doutor?". Aí a patroa explodiu: "É por isso que você faz tanta hora extra lá na Free Soft, né, seu safado! Responde, desgraçado!" Ia continuar mas o motorista interrompeu: "Doutor, em o senhor querendo eu dou uns tapas nessa vagabunda, que ela se aquieta logo."